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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A noite em que a juventude me fez bocejar

Não faz muito tempo, fui convidada por alguns conhecidos a ir numa festa beneficente que eles estavam organizando. O intuito era arrecadar fundos para uma viagem que um grupo de estudantes faria com o time da escola. Parecia ser uma noite bacana: além do clima de empenho e união, quatro bandas de estilos distintos iriam animar o evento, que também parecia agregar gente bonita e animação.

Cheguei ao local e logo iniciei um dos meus hábitos favoritos (acentuado pelo fato de não conhecer a maioria dos presentes), observar. Percebi que se tratava de, em sua maioria, adolescentes com menos de 18 anos. Coisa que eles pareciam tentar esconder, visto que tentavam se comportar de uma forma mais madura, esta soando forçada e artificial.

Nas mesas, principalmente aquelas compostas por meninos, prevalecia o consumo de cigarros e bebida alcoolica. Com jeito de que treinaram a melhor forma de segurar a droga entre os dedos, eles davam algumas tragadas, enquanto fazem a linha “poser”. Logo depois, um grupo de amigos aos quais chutaria quinze anos, se reunia em volta de uma mesa com duas latas de cerveja, e vários copos de plástico, cada um com pouco menos da metade, enquanto conversam e davam alguns goles na bebida, como se estivessem tentando “acostumar-se” mutuamente com a ingestão do líquido que lhes parece conferir algum título de status.

Cerveja, vodca pura ou com red bull, caipiroskas e caipirinhas. Tudo era consumido como água, eu arriscaria comparar com a “água da juventude”, uma espécie de ação que remeteria ao seu atuante uma imagem de ousadia e liberdade que eles tentavam a todo custo provar ter.

Enquanto os meninos tentavam se firmar como homens através dos vícios, percebí as meninas tentando aproximar-se das mulheres, buscando um ideal de sedução que ainda não lhes cabe. Uma grande corrida em busca da feminilidade, que muito mais se aproxima do vulgar e do superficial.

Rostos carregados de maquiagem, cabelos esticados, como que obrigados, independente de sua forma natural, a seguir a ditadura do liso, transparências, decotes, roupas justas, saltos enormes e pesados, aliás, estes são o último dos adereços que muitas acreditam compor o ideal de um visual perfeito, mas que pela inabilidade em usá-los, acaba por gerar, em sua maioria, um andar lento e desengonçado, que deve ser o oposto da impressão “sensual” que queiram passar.

O pior de tudo é que, na tolice de se aparentar o que ainda não se é, acabou criando-se, por parte da ala feminina, uma espécie de convenção de estilos de roupa a que se usar, de modo que naquele evento, tive a impressão de que todas vestiam as mesmas peças, e, ao invés de passarem a imagem de mais velhas, adultas, ousadas, acabaram assumindo a que faixa etária pertencem.

Enquanto estive no evento, cercada por uma geração ao qual não me identifico – e que muito frequentemente tem me presenteado com a sensação de velhice precoce – fiquei observando estes comportamentos, que provocam o efeito contrário do que esperam quem os coordena, e, comecei a sentir um enorme cansaço, na mente, só um questionamento: "O que eu tô fazendo aqui?". 

Talvez, a única coisa que conseguiu prender minha atenção foi a banda de pop rock que se apresentou. Se ali teve uma coisa que poderia ter sido exaltada, seria essa galera, que está formando suas primeiras bandas, deixando também transparecer que só queria mesmo ter a chance de mostrar o que curte fazer, já que, para dar uma força aos amigos, apresentaram-se apenas pela consumação. Bom saber que dentre um pessoal que escolhe os caminhos errados para se firmar, ainda tem outros tentando aprender a ser “gente grande” da maneira tradicional... Encarando os erros e tropeços de cara limpa, e sem precisar vestir nenhuma fantasia.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

"São sempre as causas perdidas que mais emocionam"



Tenho me descoberto cada vez mais encantada com essa imprevisão e a falta de controle que tenho, e temos, enquanto seres humanos, em relação ao futuro. Isso de que por mais que a gente deseje algo, idealize, faça planos e até torça para que aconteça, mas não tem a menor certeza do que está por vir, cada vez me surpreende e tem me emocionado. Acho até que são os acontecimentos mais bonitos, os que nascem fruto dessa inabilidade em programá-los.

Em contrapartida,  acredito que estar ciente de seus desejos e objetivos, bem como ir ao seu encontro, é fundamental para que tenhamos a chance de atingi-los, e a partir daí, paciência, para que tudo conspire a favor. Comecei a escrever isso há umas semanas atrás, relativamente no mesmo período em que me aconteceram coisas tão inimaginaveis dentro do imaginavel, que me fizeram refletir ainda mais.

Creio que muitos saibam da minha admiração por Humberto Gessinger. Cantor, compositor, instrumentista e escritor. O próprio título do blog faz menção às músicas do Engenheiros do Hawaii, grupo liderado pelo músico e que agora está em pausa. É por causa dessa admiração declarada que eu fui para Recife no início de outubro, assistir ao show que ele faria, agora com o Pouca Vogal. Isso já era motivo suficiente para uma felicidade duradoura, mas, o que eu não esperava acontecer, era ter a chance de ver bem de perto este gaúcho tão querido.

É verdade que as coisas não foram tão lindas assim, e que eu tive de fazer algum esforço para conseguir passe livre até o camarim da “menor banda de rock gaúcho do Brasil”, mas é justamente por essa chance ter chegado, da forma meio atrapalhada, meio desplanejada, e, sobretudo, pela fé no imprevisivel, que torna o momento digno de fazer parte do meu retalho de recordações.

Gostaria de poder descrever aqui o que se sente quando momentos tão esperados, e por que não inesperados como este batem à sua porta, mas, até hoje, nas várias descrições que fiz, as várias pessoas que vieram me perguntar como consegui tal façanha, jamais conseguidescrever a sensação de estar de frente com aquele cara cuja ligação com você até então se dava pela presença da ausência. Só sei que eu tremia, e como tremia, enquanto abria um sorriso enorme, como se estivesse de fato, reencontrando pela primeira vez, um velho amigo.

Acho que posso apenas agradecer ao acaso, tempo ou destino, quem quer que seja o diretor desse infinito filme chamado vida, que definitivamente, ninguém sabe por onde anda. Decidi que eu to fora de previsões, por que mesmo que incomunicável, ele tem garantido os melhores finais. E que bom também que eu não fui até lá pra desistir no meio do caminho, pois numa noite em que até Luiz Gonzaga, no táxi que trouxe Humberto até aqui, lhe dava razão, lá fora Recife virou mesmo uma ilha. Neste fim de semana, pude reforçar a constatação: São mesmo as causas perdidas, as mais emocionantes.

Valeu, Gessinger! (E claro, Duca!)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Quando o herói vira vilão


Após a enorme exploração midiática do assunto Copa do Mundo, parece estar chegando aos capítulos decisivos o polêmico caso envolvendo o goleiro Bruno Souza.
A minha intenção aqui não é trazer novos relatos do ocorrido ou jogar mais lenha na fogueira. Pelo contrário, acho que esse ofício muitos já tomaram para si, e o fazem (muito) bem. Eu gostaria mesmo de falar enquanto torcedora do time em que o Bruno era bastante aclamado, e mais ainda, como admiradora do futebol, e entristecida com o rumo que este vem tomando.
O que aconteceu com o Bruno, foi (até certo ponto) mais uma eventualidade que ocorre com alguns jogadores (e) famosos. Envolvimento com muitas mulheres, gravidez indesejada, e posteriormente o pedido de pensão alimentícia. História que a gente ouve falar desde os primórdios, onde tal acontecimento era vulgarmente chamado de "golpe da barriga". Romário, Vampeta e até mesmo Pelé, são exemplos de jogadores que assumiram filhos frutos de relacionamentos extra-conjugais e hoje fornecem pensões.
Não procuro condenar ou defender nenhum partido, pois não acredito que sejam unicamente as mulheres as culpadas por deixarem-se engravidar ou os homens, que buscam satisfazer seus desejos sexuais. Observo é que acaba rolando uma relação dinheiro x posse.
São jogadores que logo ao iniciarem suas carreiras profissionais ganham altas quantias, e alguns parecem ficar deslumbrados com a fama, e o status social que vem agregado a tudo isso. Com o primeiro salário, carros do ano, jóias enfeitando todo o corpo, e na mesma proporção em que compram mercadorias, passam a comprar corpos belos e esbeltos. Uma troca de serviços na qual o comprador busca o prazer momentâneo, e o vendedor deseja a remuneração a longo prazo.
Houve a falta de responsabilidade, mas Bruno teria plenas condições financeiras de arcar com as despesas para a criação de seu suposto filho. Em vez disso, se for mesmo confirmado o crime, teria conspirado para a realização de um ato de perversão e burrice, tirando a vida da ex-amante, e condenando ao menor à mesma vida ausente de carinho materno que ele e Elisa tiveram.
Entristeço-me com relação ao bebê, que chegou ao mundo de uma maneira tão turbulenta e desorientada, e que agora passa de mão em mão, sem um tutor definido. E claro, também pelo excelente profissional que o meu time acaba de perder.
Com 1,90m e 2,40m de braços esticados, Brunoe era carinhosamente chamado pela torcida de "muralha", por ser o terror de certos adversários que tentavam, tentavam e simplesmente não conseguiam fazer nossa rede balançar. Nesses mais de três anos jogando pelo Flamengo, com a minha admiração e de outros milhares de torcedores, ganhou o ofício de capitão do time.
E agora José? Tudo isso vai se transformando em decepção, a maneira em que mais e mais indícios se voltam contra o jogador. E o que era talento, infelizmente acaba sendo comprometido pela má conduta do rapaz de apenas 25 anos, que poderia ir ainda mais longe em sua trajetória de sucesso nos gramados, mas que, ao que tudo indica, dificilmente voltará aos campos outra vez.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

"Chuva de containers, entertainers no ar".




Big Brother Brasil. Rebolation. Carnaval. Ressaca do carnaval. Gaiola das Popozudas. Sorria, você está na Record. Plantão de Polícia. Quem deve deixar a casa? Vote agora! A fazenda. O Fuxico. Copa do mundo. Esquadrão da moda. Zorra Total. Casseta e Planeta. Gugu ou Faustão? NxZero. De volta pra minha terra. Swinga, Requebra, Samba Maceió.

Sabe aquela época lá do colégio em que você se sentia sufocado assistindo aula de química e torcia pra tocar logo pro intervalo? Então, parece que agora todos nós podemos pular essa parte chata e ir direto pro pátio, para a hora do recreio!
Não entendeu como? Super simples. Basta ligar a televisão ou outro meio de espaço midiático e observar o estilo de conteúdo ao qual estamos constantemente sendo bombardeados.
É o regime novo de alguma atriz, um cantor que está de casinho novo, a filha de um outro artista, que nem é do meio, mas já ganha condição de celebridade, ou mesmo o seu Zé da esquina que foi ferido num episodio violento, e ainda agoniza, enquanto as câmeras se voltam atentas para o seu corpo.
Por que a noticia é um show”, diz frequentemente um locutor de um programa de rádio AM. E baseados nesse espetáculo é que os meios de expressão da mídia resolvem agir. Programas e noticias que coloquem o expectador á par de seus direitos, são desconsiderados, porém o BBB, o rebolation e outros tantos dentre os citados acima, que nada nos acrescentam, chovem aos montes.
E digo isso por que me recordo da época em que o BBB ia ao ar; numa certa manhã, ligo a TV e me deparo com Ana Maria Braga e mais meia dúzia de famosos discutindo e analisando o perfil de cada participante do reality, e o rumo que este poderia tomar à medida que os jogadores fossem saindo. Custei a acreditar que em meio a tantas questões mais serias a serem discutidas, um programa dedicasse tanto tempo (e reflexão) a algo tão banal. Audiência...
Algumas semanas antes, logo após o carnaval, o Faustão trouxe o vocalista do Parangolé para ensinar a dançar o “Rebolation”, e perguntou a ele de onde surgiu inspiração para compor tal sucesso (parece até ironia), sim, o cara é compositor, e a inspiração veio quando ele assistia a vídeos no youtube. (Posso fazer uma lista de bandas que mereciam aquele horário para divulgação de seu trabalho).
Sem falar nas tragédias policialescas televiosionadas em pleno horário de almoço, em que são transmitidas conversas com o acusado diretamente na cela, filmagem de corpos recém - assassinados, além de entrevistas com os parentes ainda em choque que acabam de saber do acidente.
Após minutos de “tragédia” no ar, surge logo um merchandising, uma partida de futebol, ou o desenho animado, destinados a quebrar essa “tensão” e nos fazer voltar à passividade outra vez.
E assim, corremos o risco de ver a brutalidade ao nosso redor e achar que ela é mesmo mais um elemento do nosso cotidiano, por que já foi tão filmado que vira rotina, e perde o poder de chocar. Dessa forma, nos acostumamos a ouvir que um amigo foi assaltado e ao invés de questionar a (falta de) segurança pública, pedir que ele tome mais cuidado, por que o mundo... “Ah, o mundo é assim mesmo...”. A gente tende a cruzar os braços e não sair da posição de contemplador. Apenas comprando ingressos, matando a sede, sendo sedados, e quando o espetáculo acaba (nem dando o trabalho de levantar-se) pegar o controle e mudar de canal.


quarta-feira, 31 de março de 2010

50 anos de Renato Russo


Quem me conhece pelo menos um pouco sabe do meu apreço pelo rock da década de 80. Então, já que andei sumida, não vejo hora melhor para postar, que não seja em meio às comemorações do 50º aniversário de Renato Russo, integrante de uma das minhas bandas nacionais favoritas.
Não procuro levantar nenhum tipo de fanatismo (pra falar a verdade nem gosto do termo fã) ou certo apego ao passado, longe disso, sou só mais uma necessitada de música de qualidade, e que sofre para encontrar sons agradáveis (à cabeça e) aos ouvidos desde que bandas como a Legião Urbana pararam de produzir.
Talvez por que a impressão que tenho ao entrar em contato com nosso rock nos dias de hoje é de estagnação, falta de conteúdo, e, sobretudo de causa. Principalmente se pararmos pra analisar o histórico das produções musicais anteriores. No momento que antecede a aceitação e consequente consagração do rock oitentista estava a MPB e a Bossa Nova, carregadas de manifestações contra a opressão e a ditadura.
Após esse descontentamento, surgiram as primeiras bandas de rock, formadas por jovens que queriam dar uma nova "cara" à esse estilo no Brasil, que antes dependia de esporádicas apresentações de artistas internacionais como The Police e Van Halen.
Jovens como Cazuza, Gessinger e mesmo Renato, que faziam da música uma forma de expressão de suas concepções a cerca da fase em que viviam, seja ela de cunho social, político ou sentimental.
Percebia-se que as composições próprias tinham importância para tais artistas. Notamos no próprio Renato, uma grande facilidade em alcançar dimensões distintas. Basta, por exemplo, ouvir Vento no Litoral e Geração Coca-Cola, para perceber tais diferenças.
Talvez por que até aí o lance da música como produto e do ouvinte como mero "consumidor" ainda não estivesse tão escancarado. Por ser um estilo recente, a onda era se divertir. Compor, tocar, em meio à noitadas, bebidas, drogas e relações afetivas efêmeras. Assim,os artistas da época eram considerados representantes da juventude de sua geração.
Após a morte de Renato e outros artistas do momento, vimos surgir, no fim de 90 e começo de 2000, um novo panorama do rock no Brasil, representados por bandas como: Nx Zero, Fresno, Pitty, CPM 22, Hateen, Strike, entre outros. O pós-punk dava lugar ao Emocore. Com composições restritas à nostalgia do amor não correspondido, a produção começou a encontrar retorno num público também menor, de 10 à 18 anos.
Dentre as poucas bandas oitentistas que ainda estão na ativa nos dias de hoje, percebe-se que algumas, como Capital Inicial e o Frejat (em carreira solo), uma perda de identidade em consequência das exigências do mercado. A maioria, como os dois citados, prefere continuar regravando grandes hits do passado, já que é uma posição mais "confortável".
Outras, como IRA, Kid Abelha e Engenheiros do Hawaii decretaram uma pausa, antes de suscitarem virar couverts de si mesmos, como já falou o líder da última banda. Saindo da zona de conforto e acreditando que só tensa a corda vibra legal, Gessinger e Leindecker, líder da também em pausa Cidadão Quem, resolveram se juntar e ir em busca de um novo projeto, o Pouca Vogal.
Recordando agora uma entrevista dada por um artista de 80, concordo que "o maior sinal de respeito de um artista em relação ao seu público é não pensar nele quando cria. Não quero que os artistas dos quais eu gosto pensem em mim quando criam, que os políticos nos quais eu voto façam pesquisa pra saber como eu quero que eles falem e atuem. Quero que eles tenham uma visão e corram o risco de encontrar ou não quem se interesse por ela."
Era isso que eu sentia - e ainda sinto - cada vez que coloco uma música da Legião pra tocar. Renato, que nem era russo, e sim Manfredini Junior, compunha com total racionalidade do que estava passando, e mesmo com a possível chance de não fazer sentido para alguns, lá estava ele jogando toda a sua sinceridade no palco, mesmo como um Trovador Solitário.
Sinceridade e por que não personalidade, que parece estar cada vez mais escassa por aqui. Constato enquanto escrevo e ouço de fundo alguns cantores famosos, junto com a formação da Legião, tentando reproduzir alguns dos sucessos da banda como uma "homenagem" ao cantor que faria aniversário. Digo tentativa, por ter sido um fracasso. Seja pelos tons de vozes completamente opostos e desafinados, ou pela interpretação mecânica e nonsense de músicas tão conhecidas e adoradas, que falariam por si só.
Após tamanho fiasco, decido ficar por aqui, antes de começar a soar piegas e o tiro sair pela culatra feito o programa de Serginho Groisman. Antes, contento-me em dizer que Renato, com sua singularidade e talento, deixou uma imensa contribuição à nossa música. Ai de nós, em tempos de vazio como este, se não tivéssemos músicas e composições como as suas, para garantir a saúde dos ouvidos.
Ao Renato, os meus parabéns! :)