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domingo, 12 de junho de 2011

"Deixa vir do coração..."




Como faço algumas vezes na semana, fui buscar a prima na escola. Dessa, cheguei um pouco mais cedo e fiquei a sua espera no banco do pátio. Tempos depois, alguns colegas de sua sala começaram a sair. Inclusive conversei com um, que veio me dar um bombom, e posteriormente, o conselho de ir até sua sala de aula.

Resolvi  ouvir a dica do garoto e ir até lá procura-la. Chegando à sala, uma reuniãozinha de meninas acontecia. Todas falavam ao mesmo tempo, mas, pela cara de indecisa de uma delas, supus que era sobre o seu “problema” que discutiam.

O fato era que a tal menina, que contou ter vários pretendentes (inclusive o menino que me deu o chocolate), tinha sido convidada para ir ao cinema por um deles. Justamente pelo qual nutria um sentimento recíproco. Daí por isso, ela, que não era tímida, mas ficava inquieta ao tocar no assunto, pediu a opinião das colegas mais próximas sobre o que fazer. Até mesmo a minha, que vinha chegando sem saber de nada, e rapidamente fui colocada a par do assunto.

Achei aquilo uma graça. Mesmo. A situação toda sabe? Se estivéssemos na “Era Bispo”, definiria como experiência estética. Mas, como quase jornalista, e com o pé fora da escola e das confusões pré-adolescentes, um flash (aesthesis? hahaha) me passou pela cabeça, trazendo uma nostalgia gostosa dessa época (época foi fogo, to me sentindo uma anciã agora).

É mais ou menos assim: a gente morre de amores por alguém, e morre de vergonha que os outros percebam também. Falar, encontrar com ele então... É tudo muito mais baseado em olhares. As coleguinhas sabem, a “tia” da escola percebe, até as primas, que nem conhecem o menino, já ouviram falar no seu nome. Quem pouco sabe ou desconfia é o dito cujo. Embora a gente jure que ele dê vários indícios de que também esteja afim. Aquele que chega perto de você e te deixa nervosa, tremendo, falando mais bobagens do que o normal.

A menina falava o nome do pretendente pelo menos uma vez a cada frase, e nem deve ter percebido. Aceitar ou não o convite parecia ser o dilema de sua vida. Como se a partir daí, parafraseando Belchior, ela fosse decidir se “viver é melhor que sonhar”. Indecisa, parecia que ela tinha medo de que o choque do encontro não fosse lá tudo o que sempre sonhou, e pudesse acabar de vez com todas aquelas fantasias sonhadas sozinha, alimentadas por olhares, bombons e cartinhas sem assinatura.

E eu aqui comigo, achando tudo a coisa mais linda. Relembrando tempos em que o tal do amor parece ser tão simples, feito esse convite pro cinema, decidido num (suposto) sim. Onde gestos, conversas, gargalhadas compartilhadas, tudo isso não cedesse espaço ao beijo sem química, sexo no primeiro encontro, telefonemas dados ou não depois?

Por enquanto ele encontra-se em sua forma mais pura. Alguns podem dizer que beira o platônico. Ideal... Pelo pouco que conversei com ela, naquela manhã, talvez. Mas, acredito que ele possa vir a desabrochar lentamente, tipo uma outra música do Djavan (Flor do medo) : “Pode até ser sonho e tal, mas pode até ser que seja amor...”.