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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dia de quem?


Sabe uma daquelas cenas que congelam na tua mente e por mais que não seja novidade, mexe contigo e você passa um tempo até conseguir digerir? Presenciei não faz muito tempo, no início de tarde, num supermercado aqui de Maceió.

Na entrada, panfletos e anúncios de ofertas de brinquedos e demais produtos destinados à criançada eram largamente distribuídos. Para impressionar ainda mais a quem estava chegando, algumas novidades no que diz respeito ao entretenimento infantil foram estrategicamente expostas e bem posicionadas.

Estava em direção a porta de saída, quando avistei um menino parado nesse mesmo corredor de exposição. Sujo e mal vestido, ele estava totalmente hipnotizado pelo brinquedo que o vendedor acabara de montar para exibição: Um desses carros que cabe uma criança dentro e cuja tecnologia possibilita dirigir o pequeno veiculo. Exatamente ao lado, separados apenas pela porta de entrada/saída, um senhor bem vestido estava encostado num balcão, enquanto reclamava pela demora do vendedor em testar uma outra unidade do mesmo produto exposto que ele havia comprado há pouco tempo.

Que ironia. O mesmo brinquedo, tão distante para o garoto de rua que sequer foi notado pelo homem e pelo vendedor (mas, certamente pelo segurança), estava facilmente ao alcance do cliente e da possível criança a quem ele ofertou o presente.

Saí da loja mais pesada do que entrei. Com a sensação de que o comércio e o meio publicitário são dois meninos mimados que fazem promessa de felicidade instantânea a alguns, enquanto se lixam para outros, sem o menor pudor. Mais ainda, fiquei me perguntando, hoje, quantas crianças ficaram de fora dessa comemoração que foi feita... Pra quem mesmo?

É curioso. Não preciso andar muito pela cidade para ver crianças pedindo esmola, limpando vidros e vendendo balas no trânsito, nem de uma busca mais detalhada para saber que em muitas escolas públicas alunos estão sem merenda por que há desvios de verba, que após um ano em que ocorreu a enchente, ainda falte moradia digna, e o pior de tudo, que ocorram tantos casos de abusos sexuais contra crianças no Estado. E a pergunta inevitável que fica: E com essas, será que alguém se importa?

Abrir lojas no feriado não resolve. Dividir em 10x em todos os cartões ou no carnê da casa também não. Nossas crianças precisam de cuidado, só que infelizmente isso não se acha em liquidações de shopping centers.