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sexta-feira, 22 de março de 2013

Amigas e Rivais?



Se você usa o e-mail regularmente já deve ter lido uma piada popular em relação à diferença entre a amizade dos dois sexos. É mais ou menos assim: Após dormir fora, a mulher avisa ao marido que estava na casa da amiga. Ele liga para 10 amigas dela e nenhuma confirma o caso. Já quando o homem passa a noite longe de casa e a esposa resolve ligar para 10 amigos dele, ouve confirmação de cinco, enquanto outros cinco não só garantem a versão, mas, asseguram que o cara ainda está lá no maior sono.

Essa é apenas uma das recorrentes piadas que ouvimos sobre a lealdade e companheirismo que marcam a forma como a ala masculina enxerga a amizade, sempre em contraste com a competição, inveja e rivalidade que configuram a relação de afeto entre as mulheres.

Mas... Desde quando? E, pq? Baseado em que?


 Na infância, os contos de fadas nos mostram várias situações em que as mulheres estão se enfrentando pela atenção do protagonista, disputam os melhores atributos e fazem sacrifícios pela juventude eterna. É o caso das madrastas, que querem acabar com as enteadas e reinar sozinhas no coração do rei.

Na adolescência as comédias românticas exaltam as populares da escola. Aquelas que têm o cara, o corpo e as roupas dos sonhos e por isso devem ser admiradas, respeitadas e por que não, invejadas.

Na vida adulta dizem que nos arrumamos para ficarmos mais bonitas que as amigas. Que se emagrecer for muito difícil para nós, adoraríamos que elas ficassem cheinhas junto. Estamos aqui, pro que der e vier, ajudando, rindo, compartilhando momentos únicos. Mas, ao final do dia, quando chegarmos a casa, ainda nos lembraremos dos defeitos físicos dela, que, claro, são mais evidentes que os nossos.

E será mesmo? Será que somos biologicamente programadas para sermos competitivas, invejosas e manipuladoras?

Mais do que o espelho que desenvolvemos ainda na tenra infância, fica a nítida impressão de que somos também constantemente incentivas, pelos modos culturais, midiáticos e sociais vigentes, a cultivar esta competição.

Em recente publicidade, uma mulher comum marca um encontro na praia com o namorado. Ao chegar, se depara com Débora Nascimento, atriz cuja última personagem na TV ajudou a popularizar a música “assim você mata o papai”, de um famoso grupo de pagode. Ao avistar a atriz de biquíni, a moça logo muda o local do encontro com o namorado, numa clara manifestação de insegurança perante a “rival”. Você nunca viu alguém rindo e concordando durante sua exibição?

Ao passear pelos canais de televisão, há alguns dias, ouvi a confissão de uma convidada num desses programas sobre celebridades: “Ligo mais para o sapato do que para roupas. É a primeira coisa que olho nas minhas amigas também. Aliás, você já deve estar cansado de saber que mulher se produz para mulher, não é?” Disse ela ao apresentador, aos risos, enquanto o controle me levava de volta ao passeio.

“Mulher se arruma para mulher”, ok. Mas, pra quê mesmo? Como forma de competir, esperar o olhar
da outra na rua para ter certeza de que realmente está bela e despertou inveja? Que sim, se alguma representante da ala feminina, famosíssima pela percepção aguçada, se curvou a sua beleza, você está mesmo arrasando e representa perigo à moça, por ser uma concorrente fortíssima? Eita! Pensei que a gente se arrumasse para outras mulheres...

Acredito mesmo que seja necessário rever esse senso comum antes de irmos compartilhando e reproduzindo aleatoriamente, sem o mínimo de reflexão. Somos cuidadosas, detalhistas e meticulosas? Sim. Mas daí a dizer que fofoca, intriga e rivalidade pegam carona em nossas qualidades, é um pouco pesado, né não?